Popularizando a Linguística


Mahayana Godoy

Revista Roseta

abril/2019

Objetivos


  • Conhecer a Roseta e algumas iniciativas de divulgação científica em linguística no Brasil


  • Discutir as características de um texto de divulgação científica


  • Pensar como sua pesquisa poderia ser divulgada ao público não-acadêmico


  • Ver algumas ideias de uso de divulgação científica na graduação e na pós

Primeira tarefa


Escreva um pequeno resumo da sua pesquisa.

Se você ainda não tem pesquisa, escreva algo sobre a disciplina da linguística que você mais gostou de estudar até agora na universidade.


  • eu estudo como e quando o nosso sistema cognitivo é capaz de antecipar traços semânticos e informação gramatical de itens lexicais

O que é e por que me importar?

Razões para fazer divulgação científica

Razões para fazer divulgação científica

Razões para fazer divulgação científica

Razões para fazer divulgação científica

Razões para fazer divulgação científica

Razões para fazer divulgação científica

Algumas iniciativas de DC em linguística (lista não exaustiva)

Olimpíada Brasileira de Linguística


https://www.youtube.com/user/linguimpiada

Enchendo Linguística


https://www.youtube.com/channel/UCB-6vpF2TxHJE7gQ3fktzVw/featured

Spin de Notícias - Deviante

Thiago Motta e Debbie Cabral

http://www.deviante.com.br

Língua Livre


http://www.lingualivre.com

#Linguística

https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/

Roseta

http://www.roseta.org.br/pt/

Você! (todo linguista é um divulgador)


Primeiro desafio da divulgação científica

Como e o que falar?


Anote os termos que você vai ouvir em três vídeos de divulgação científica.

Como e o que falar I?

(https://www.youtube.com/watch?v=ont4fKFU2rE&t)

Como e o que falar II?

(https://www.youtube.com/watch?v=Ivmfhg85-CM)

Como e o que falar III?

(https://www.youtube.com/watch?v=ZUQAVj21zMo&t)

Adequações Lexicais


Texto I: para crianças


  • pensamento, choques elétricos, uma massa cinzenta, células que a gente chama de neurônios, estrelas que não brilham, tentáculos que mandam choques


  • eu fico ouvindo esses sons, eu quero entender como isso funciona

Adequações Lexicais


Texto II: para universitários


  • cérebro, neurônios, sinais elétricos, fisiologia do cérebro


  • medir atividade de inúmeras áreas cerebrais ao mesmo tempo, entender como diferentes áreas se comunicam

Adequações Lexicais


Texto III: para especialistas


  • cérebro, processam informações de modo serial, processamento em paralelo, resultados complementares, pegar toda a informação gerada como C para gerar uma percepção única e integrada, percepção fragmentada do mundo


  • minha hipótese é que ondas cerebrais são instrumentais na integração de informação dessas diferentes áreas cerebrais

Adequações Lexicais: alguns exemplos


De acordo com estudos da Universidade de São Paulo (USP), uma inovação do português brasileiro, por enquanto sem equivalente em Portugal, é o R caipira, às vezes tão intenso que parece valer por dois ou três, como em porrrta ou carrrne.

(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira)

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/

Adequações Lexicais: alguns exemplos


Os pesquisadores incluíram quatro outros critérios para a classificação do texto, em relação ao estudo original da Universidade de Michigan: a pausalidade (quantidade de pontuação média utilizada no texto); a emotividade (medida pela quantidade de adjetivos e advérbios em relação a substantivos e verbos); o não imediatismo (a frequência de pronomes de primeira e segunda pessoa); e a incerteza (medida pela quantidade de verbos auxiliares – “pode ter havido” em vez de “houve”). Por esses critérios, as notícias falsas apresentam textos menos pausados e mais emotivos, pessoais e especulativos.


(Fábio Sasaki. No combate às Fake News)

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/10/26/no-combate-as-fake-news/

Adequações Lexicais: atividade


Escolha um público para seu texto e reescreva o modo como você explicou sua pesquisa.

  • eu estudo como e quando o nosso sistema cognitivo é capaz de antecipar traços semânticos e informação gramatical de itens lexicais


  • eu estudo como nossa mente consegue prever algumas informações sobre uma palavra, como seu gênero gramatical, antes de a gente ler essa palavra


  • eu tento entender como às vezes a gente consegue adivinhar o que uma pessoa vai falar

Informações do texto

Seleção de informações


Que informações são relevantes para o meu público?

Texto I: para crianças

  • O que forma o pensamento? - estudo do pensamento


Texto II: para universitários

  • Como as diferentes áreas do cérebro se comunicam? - estudo da fisiologia do cérebro e comunicação de diferentes áreas cerebrais


Texto III: para especialistas

  • Por que um mesmo estímulo é processado por diferentes áreas do cérebro? - hipóteses sobre funcionamento do cérebro e relação com condições como autismo e esquizofrenia

Seleção de informações

Artigo científico

  • Introdução
    • revisão de literatura
    • apresentação de conceitos
    • justificativa e objetivos da pesquisa


  • Métodos
    • materiais
    • metodologia
    • análise dos resultados


  • Discussão
    • interpretação dos dados à luz da literatura
    • limitações e pesquisas futuras

Seleção de informações

Um texto de divulgação científica não é um artigo acadêmico!

Seleção de informações


Para selecionar informações, pense:


  • que aspectos da minha pesquisa mais desperta a atenção dos meus amigos não-linguistas?

  • que relação meu trabalho estabelece com o dia-a-dia das pessoas?

  • se eu estudo um assunto super específico (e.g. resolução de pronomes ambíguos), que aspectos mais gerais do meu trabalho podem ser interessantes?

Apresentação de informações


O que não fazer:

  • copiar/colar um artigo científico apenas alterando alguns termos técnicos



Como fazer

  • Apresentar seu trabalho de uma maneira interessante para quem não é linguista

Apresentação de informações

Quem é meu leitor na academia?

Apresentação de informações


Como prender a atenção de quem não é linguista?


Como convencer alguém a passar cinco minutos lendo um texto sobre linguística?

Apresentação de informações: introdução


Antecipe as conclusões (e jamais comece com “este trabalho pretende investigar”).


“Nem sempre as pessoas falam aquilo que dizem que falam”

(Raquel Freitag. Nem sempre as pessoas falam aquilo que dizem que falam, Roseta)

Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/16/nem-sempre-as-pessoas-falam-aquilo-que-dizem-que-falam/

Apresentação de informações: introdução


“A possibilidade de ser simples, dispensar elementos gramaticais teoricamente essenciais e responder “sim, comprei”, quando alguém pergunta “você comprou o carro?”, é uma das características que conferem flexibilidade e identidade ao português brasileiro. A análise de documentos antigos e de entrevistas de campo ao longo dos últimos 30 anos está mostrando que o português brasileiro já pode ser considerado único, diferente do português europeu, do mesmo modo que o inglês americano é distinto do inglês britânico.”

(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/

Apresentação de informações: introdução


Apresente as perguntas que você pretende responder sobre o tema.


“É possível saber a classe social de uma pessoa só de ouvi-la?”

(Livia Oushiro. É possível saber a classe social de uma pessoa só de ouvi-la?, Roseta)

Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/13/e-possivel-saber-a-classe-social-de-uma-pessoa-so-de-ouvi-la/

Apresentação de informações: introdução


“Ciência sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional”. A descrição está na página oficial do programa, uma iniciativa dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC). Mas quando fala em ciência, a que exatamente o texto se refere? E, principalmente, quando se observam as áreas contempladas, o que não está sendo dito? Ou, para quem trabalha na área da linguística, quais os sentidos que são produzidos por esta ausência, sobretudo com relação às artes e às ciências humanas?

(Patrícia Lauretti. Ciência com fronteiras, Jornal da Unicamp)

Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/ju/671/ciencia-com-fronteiras

Apresentação de informações: introdução


Descreva uma situação cotidiana.


“Toda vez que visito meu pai, é a mesma coisa: fico no meio da revolta dele contra o uso de “a gente”. Ele fica indignado porque os jornalistas da Globonews usam “a gente”, “a gente”, “a gente”. Ele diz que “é um desserviço à educação”, é um “empobrecimento da língua”, e fica preocupado com o futuro e o que vai ser do mundo, só por causa desse “a gente”. Aí, depois de todo o textão, de repente ele solta “A gente precisa pensar no almoço”…”

(Raquel Freitag. Nem sempre as pessoas falam aquilo que dizem que falam, Roseta)

Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/16/nem-sempre-as-pessoas-falam-aquilo-que-dizem-que-falam/

Apresentação de informações: introdução


Aborde uma referência cultural comum a todos ou um acontecimento recente.


“Quem já não escutou o famoso Samba do Arnesto de Adoniran Barbosa? Este samba, que é uma das canções mais conhecidas do compositor, nos apresenta um fenômeno presente em todas as línguas: a variação linguística.”

(Livia Oushiro. Nóis fumo, num encontremo ninguém: o que é variação linguística?, Linguística)

Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2016/10/03/nos-fumos-nao-encontremos-ninguem-o-que-e-variacao-linguistica/

Apresentação de informações: introdução


No domingo, dia 04/11/2018, aproximadamente, 5,5 milhões de candidatos foram fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Entre várias questões de Linguagens, Ciências Humanas (totalizando 90 questões) e a Redação, houve algumas polêmicas, entre elas, a questão sobre o pajubá, o dito “dialeto secreto” de gays e travestis. Mas o que há de polêmico na questão? O que causou alvoroço nas redes sociais pós prova?

(Jonathan Moura. Deu bafão! A polêmica sobre a questão do Enem em relação ao “dialeto secreto” de gays e travestis, Linguística)

Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2018/11/12/deu-bafao-a-polemica-sobre-a-questao-do-enem-em-relacao-ao-dialeto-secreto-de-gays-e-travestis/

Apresentação de informações: introdução


Pense: como seria uma boa maneira de começar o seu texto?

Apresentação de informações: introdução

Relembrando algumas possibilidades


  • Antecipe as conclusões


  • Apresente as perguntas que você pretende responder sobre o tema


  • Descreva uma situação cotidiana


  • Aborde uma referência cultural comum a todos ou um acontecimento recente

Apresentação de informações: fontes


Como citar fontes?


Célia Lopes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou registros de a gente em documentos do século XVI e, com mais frequência, a partir do século XIX. Era uma forma de indicar a primeira pessoa do plural, no sentido de todo mundo com a inclusão necessária do eu. Segundo ela, o emprego de a gente pode passar descompromisso e indefinição: quem diz a gente em geral não deixa claro se pretende se comprometer com o que está falando ou se se vê como parte do grupo, como em “a gente precisa fazer”.

(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/

Apresentação de informações: métodos


Como falar de métodos?


Em um estudo recente em São Paulo, investiguei quais significados se associam a duas pronúncias de R no final de sílaba – o retroflexo, chamado popularmente de “r caipira”, e o tepe, prototipicamente paulistano –, para além de estereótipos relacionados à origem geográfica dos falantes. Os ouvintes, novamente sem saber que estavam avaliando os mesmos falantes, atribuíram diferentes áreas de residência e status social a depender de qual pronúncia de R ouviram numa gravação

(Livia Oushiro. É possível saber a classe social de uma pessoa só de ouvi-la?, Roseta)

Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/13/e-possivel-saber-a-classe-social-de-uma-pessoa-so-de-ouvi-la/

Apresentação de informações: métodos


Como falar de métodos?


Linguistas de vários estados do país estão desenterrando as raízes do português brasileiro ao examinar cartas pessoais e administrativas, testamentos, relatos de viagens, processos judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século XVI, coletados em instituições como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do Estado de São Paulo.

(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/

Apresentação de informações: resultados


Como falar de resultados?


Os documentos antigos evidenciam que o português falado no Brasil começou a se diferenciar do europeu há pelo menos quatro séculos.

(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/

Apresentação de informações

Lembretes: a divisão métodos/resultado é própria de artigos científicos. Muitas vezes, ambos são descritos conjuntamente.


Fizemos três experimentos em que pedíamos para as pessoas criarem ou escolherem nomes já prontos para Pokémons pré e pós-evolução parecidos com o que mostramos na figura abaixo. (…) Ao todo, mais de 300 pessoas (às quais somos muito gratos!) participaram dos experimentos. Os resultados foram muito parecidos com o que foi encontrado em japonês e com o que prevíamos: Pokémons pré-evolução receberam mais nomes com a vogal /i/, e seus nomes eram mais curtos, enquanto Pokémons pós-evolução receberam nomes mais longos e com a vogal /a/.

(Mahayana Godoy. Sócrates, Pokémon e Simbolismo Sonoro, Linguistica)

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/

Revisando…

O que fazer:

  • Selecionar informações pertinentes, pensar em como introduzir o assunto de forma interessante e evitar apresentar as informações como em um artigo científico.

O que evitar:

  • apresentar literatura com expressões como “o nosso referencial teórico”

  • citações acadêmicas (“segundo Fulano (2018)”)

  • dar detalhes técnicos de equipamento utilizado (se não for relevante)

  • informar detalhes sobre corpus ou participantes (se não for relevante)

  • apresentar detalhes de análises estatísticas (modelos, resultados)

  • dar informações sobre números de processo do financiamento

Agora sua página não está mais em branco…


Que aspectos da sua pesquisa você selecionaria para divulgar para um público amplo e não acadêmico?


Como (em que ordem, de que modo) essas informações seriam apresentadas?

Onde publicar? Como convencer outras pessoas a escreverem?

Roseta: o que publicamos?


Autores

  • qualquer pessoa que desenvolva pesquisa no campo da linguística, independente de titulação

Temas

  • temas relacionados às mais diversas áreas da linguística

Público

  • pessoas que não estão necessariamente na academia, das mais diversas idades e interesses, que consigam ler um texto jornalístico

Configurações do texto

  • curtos, com cerca de 5000 caracteres

Espalhando a ideia


Como fomentar a ideia de que divulgação científica é importante?


  • Atividades avaliativas em cursos de graduação e pós-graduação que tenham como objetivo a produção de um material de divulgação científica.


  • O material pode ser dos mais variados tipos: textos para revista, blog, vídeos, quiz, infográficos, apresentação (science slam, pint of science), perfis em redes sociais…

Cursos para ajudar na produção de material

https://mooc.campusvirtual.fiocruz.br/divulgacao_cientifica/#

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Obrigada!


Contato: roseta@roseta.org.br

Contato pessoal: mahayanag@gmail.com

Para baixar os slides: http://mahayana.me/ensino_e_materiais