Popularizando a Linguística
Mahayana Godoy
Revista Roseta
abril/2019
Escreva um pequeno resumo da sua pesquisa.
Se você ainda não tem pesquisa, escreva algo sobre a disciplina da linguística que você mais gostou de estudar até agora na universidade.
Anote os termos que você vai ouvir em três vídeos de divulgação científica.
Texto I: para crianças
Texto II: para universitários
Texto III: para especialistas
De acordo com estudos da Universidade de São Paulo (USP), uma inovação do português brasileiro, por enquanto sem equivalente em Portugal, é o R caipira, às vezes tão intenso que parece valer por dois ou três, como em porrrta ou carrrne.
(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira)
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/
Os pesquisadores incluíram quatro outros critérios para a classificação do texto, em relação ao estudo original da Universidade de Michigan: a pausalidade (quantidade de pontuação média utilizada no texto); a emotividade (medida pela quantidade de adjetivos e advérbios em relação a substantivos e verbos); o não imediatismo (a frequência de pronomes de primeira e segunda pessoa); e a incerteza (medida pela quantidade de verbos auxiliares – “pode ter havido” em vez de “houve”). Por esses critérios, as notícias falsas apresentam textos menos pausados e mais emotivos, pessoais e especulativos.
(Fábio Sasaki. No combate às Fake News)
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/10/26/no-combate-as-fake-news/
Escolha um público para seu texto e reescreva o modo como você explicou sua pesquisa.
Que informações são relevantes para o meu público?
Texto I: para crianças
Texto II: para universitários
Texto III: para especialistas
Artigo científico
Um texto de divulgação científica não é um artigo acadêmico!
Para selecionar informações, pense:
que aspectos da minha pesquisa mais desperta a atenção dos meus amigos não-linguistas?
que relação meu trabalho estabelece com o dia-a-dia das pessoas?
se eu estudo um assunto super específico (e.g. resolução de pronomes ambíguos), que aspectos mais gerais do meu trabalho podem ser interessantes?
O que não fazer:
Como fazer
Quem é meu leitor na academia?
Como prender a atenção de quem não é linguista?
Como convencer alguém a passar cinco minutos lendo um texto sobre linguística?
Antecipe as conclusões (e jamais comece com “este trabalho pretende investigar”).
“Nem sempre as pessoas falam aquilo que dizem que falam”
(Raquel Freitag. Nem sempre as pessoas falam aquilo que dizem que falam, Roseta)
Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/16/nem-sempre-as-pessoas-falam-aquilo-que-dizem-que-falam/
“A possibilidade de ser simples, dispensar elementos gramaticais teoricamente essenciais e responder “sim, comprei”, quando alguém pergunta “você comprou o carro?”, é uma das características que conferem flexibilidade e identidade ao português brasileiro. A análise de documentos antigos e de entrevistas de campo ao longo dos últimos 30 anos está mostrando que o português brasileiro já pode ser considerado único, diferente do português europeu, do mesmo modo que o inglês americano é distinto do inglês britânico.”
(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/
Apresente as perguntas que você pretende responder sobre o tema.
“É possível saber a classe social de uma pessoa só de ouvi-la?”
(Livia Oushiro. É possível saber a classe social de uma pessoa só de ouvi-la?, Roseta)
Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/13/e-possivel-saber-a-classe-social-de-uma-pessoa-so-de-ouvi-la/
“Ciência sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional”. A descrição está na página oficial do programa, uma iniciativa dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC). Mas quando fala em ciência, a que exatamente o texto se refere? E, principalmente, quando se observam as áreas contempladas, o que não está sendo dito? Ou, para quem trabalha na área da linguística, quais os sentidos que são produzidos por esta ausência, sobretudo com relação às artes e às ciências humanas?
(Patrícia Lauretti. Ciência com fronteiras, Jornal da Unicamp)
Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/ju/671/ciencia-com-fronteiras
Descreva uma situação cotidiana.
“Toda vez que visito meu pai, é a mesma coisa: fico no meio da revolta dele contra o uso de “a gente”. Ele fica indignado porque os jornalistas da Globonews usam “a gente”, “a gente”, “a gente”. Ele diz que “é um desserviço à educação”, é um “empobrecimento da língua”, e fica preocupado com o futuro e o que vai ser do mundo, só por causa desse “a gente”. Aí, depois de todo o textão, de repente ele solta “A gente precisa pensar no almoço”…”
(Raquel Freitag. Nem sempre as pessoas falam aquilo que dizem que falam, Roseta)
Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/16/nem-sempre-as-pessoas-falam-aquilo-que-dizem-que-falam/
Aborde uma referência cultural comum a todos ou um acontecimento recente.
“Quem já não escutou o famoso Samba do Arnesto de Adoniran Barbosa? Este samba, que é uma das canções mais conhecidas do compositor, nos apresenta um fenômeno presente em todas as línguas: a variação linguística.”
(Livia Oushiro. Nóis fumo, num encontremo ninguém: o que é variação linguística?, Linguística)
Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2016/10/03/nos-fumos-nao-encontremos-ninguem-o-que-e-variacao-linguistica/
No domingo, dia 04/11/2018, aproximadamente, 5,5 milhões de candidatos foram fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Entre várias questões de Linguagens, Ciências Humanas (totalizando 90 questões) e a Redação, houve algumas polêmicas, entre elas, a questão sobre o pajubá, o dito “dialeto secreto” de gays e travestis. Mas o que há de polêmico na questão? O que causou alvoroço nas redes sociais pós prova?
(Jonathan Moura. Deu bafão! A polêmica sobre a questão do Enem em relação ao “dialeto secreto” de gays e travestis, Linguística)
Pense: como seria uma boa maneira de começar o seu texto?
Relembrando algumas possibilidades
Como citar fontes?
Célia Lopes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou registros de a gente em documentos do século XVI e, com mais frequência, a partir do século XIX. Era uma forma de indicar a primeira pessoa do plural, no sentido de todo mundo com a inclusão necessária do eu. Segundo ela, o emprego de a gente pode passar descompromisso e indefinição: quem diz a gente em geral não deixa claro se pretende se comprometer com o que está falando ou se se vê como parte do grupo, como em “a gente precisa fazer”.
(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/
Como falar de métodos?
Em um estudo recente em São Paulo, investiguei quais significados se associam a duas pronúncias de R no final de sílaba – o retroflexo, chamado popularmente de “r caipira”, e o tepe, prototipicamente paulistano –, para além de estereótipos relacionados à origem geográfica dos falantes. Os ouvintes, novamente sem saber que estavam avaliando os mesmos falantes, atribuíram diferentes áreas de residência e status social a depender de qual pronúncia de R ouviram numa gravação
(Livia Oushiro. É possível saber a classe social de uma pessoa só de ouvi-la?, Roseta)
Disponível em: http://www.roseta.org.br/pt/2018/05/13/e-possivel-saber-a-classe-social-de-uma-pessoa-so-de-ouvi-la/
Como falar de métodos?
Linguistas de vários estados do país estão desenterrando as raízes do português brasileiro ao examinar cartas pessoais e administrativas, testamentos, relatos de viagens, processos judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século XVI, coletados em instituições como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do Estado de São Paulo.
(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/
Como falar de resultados?
Os documentos antigos evidenciam que o português falado no Brasil começou a se diferenciar do europeu há pelo menos quatro séculos.
(Carlos Fioravanti. Ora pois, uma língua bem brasileira, Pesquisa Fapesp)
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/
Lembretes: a divisão métodos/resultado é própria de artigos científicos. Muitas vezes, ambos são descritos conjuntamente.
Fizemos três experimentos em que pedíamos para as pessoas criarem ou escolherem nomes já prontos para Pokémons pré e pós-evolução parecidos com o que mostramos na figura abaixo. (…) Ao todo, mais de 300 pessoas (às quais somos muito gratos!) participaram dos experimentos. Os resultados foram muito parecidos com o que foi encontrado em japonês e com o que prevíamos: Pokémons pré-evolução receberam mais nomes com a vogal /i/, e seus nomes eram mais curtos, enquanto Pokémons pós-evolução receberam nomes mais longos e com a vogal /a/.
(Mahayana Godoy. Sócrates, Pokémon e Simbolismo Sonoro, Linguistica)
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/04/08/ora-pois-uma-lingua-bem-brasileira/
O que fazer:
O que evitar:
apresentar literatura com expressões como “o nosso referencial teórico”
citações acadêmicas (“segundo Fulano (2018)”)
dar detalhes técnicos de equipamento utilizado (se não for relevante)
informar detalhes sobre corpus ou participantes (se não for relevante)
apresentar detalhes de análises estatísticas (modelos, resultados)
dar informações sobre números de processo do financiamento
Que aspectos da sua pesquisa você selecionaria para divulgar para um público amplo e não acadêmico?
Como (em que ordem, de que modo) essas informações seriam apresentadas?
Autores
Temas
Público
Configurações do texto
Como fomentar a ideia de que divulgação científica é importante?
Obrigada!
Contato: roseta@roseta.org.br
Contato pessoal: mahayanag@gmail.com
Para baixar os slides: http://mahayana.me/ensino_e_materiais